segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Diário de Bordo da Turnê Encantoria no Rio Acre - #8

Colônia Primavera - Rio Branco/Acre
16/02/2013
Texto e fotos por Talita Oliveira

Depois de uma boa noite de sono, graças a gentileza de seu Raimundo, tomamos um bom café da manhã com tapiocas feitas por Rita, Dani e Regiane. Logo depois do café, o pessoal foi arrumando o cenário do espetáculo, que foi feito dentro da casa do seu Raimundo. Tudo prontinho, aguardando a chegada do nosso público...

Tapioca quentinha...
A apresentação começou por volta das 11h. Lua estava com febre, devido a catapora, e por isso não poderia participar da apresentação. O grupo Vivarte se reuniu, conversou e acabou decidindo substituir a apresentação do Encantoria por contação de histórias. Primeiro o grupo Pachorra, de Florianópolis, apresentou o seu espetáculo A origem das estrelas ou a revolta da Pamonha. Depois Dani contou A história do Zé Gogó, de Chico Pedrosa. Fico encantada em como a Dani consegue prender a atenção das pessoas. Ela tem uma interpretação enérgica e cativante. Todos deram muitas risadas com a história contada por ela. Depois o Rodolfo contou uma história cantada, A Festa dos Bichos. Rodolfo é um passarinho mesmo, como dizem o pessoal do Vivarte, além de compor músicas lindas. Depois o Juliano cantou Curió, uma linda canção que fala sobre o sofrimento de um passarinho dentro de uma gaiola. Quando ele terminou, um senhor que assistiu disse que ele nem precisava ouvir o que ele estava cantando, era só olhar para como os dedos dedilhavam o violão. A partir disso, rolou uma boa prosa entre os dois. Por fim, Dani contou mais uma história, dessa vez a do Mapinguari, do Hélio Melo. Com essa história fomos nos despedindo...

Apresentação do Pachorra
Dani e a A história do Zé Gogó
Rodolfo e a A Festa dos Bichos
Juliano e o Curió

Dani e o Mapinguari

Enquanto o pessoal dos grupos levavam as coisas de volta ao barco, aproveitei para acompanhar o seu Raimundo na colheita de alguns cachos de Pupunha. Presente dele pra gente. A pupunha estava mesmo uma delícia. Tinha da amarelinha e da vermelha...

Seu Raimundo e seu Serafim
Quando estávamos quase de partida, todos no barco, Juliano sugeriu que fosse feita uma limpeza do barranco. Realmente estava precisando... Quando cheguei, perguntei a Regiane o que eles faziam com o lixo e ela me respondeu, meio envergonhada, que jogavam no barranco. É um tristeza ver tanto lixo perto de tanta vida... Fonte de água pra beber, pra tomar banho, fazer comida, navegar e pescar... É urgente a necessidade de uma educação ambiental para os ribeirinhos e apresentação de alternativas para o destino do lixo.

Limpeza do barranco
Feita a limpeza, seguimos viagem rumo a Rio Branco. A viagem foi maravilhosa durante todos esses dias. Fomos bem recebidos em absolutamente todas as casas que aportamos. É encantador uma pessoa que você nunca viu na vida, te receber com gentileza, abrindo as portas de sua casa sem medo... Quanto diferença para os costumes da cidade! Mas confesso que apesar de linda, a semana foi bem cansativa... A começar por conviver com mais 13 pessoas, cada qual do seu jeito e com seus sons, humores. E todo dia aquele sobe e desce de barranco. Sobe e desce as coisas... Atar e desatar das redes. Dessa vez eu aprendi a dar nó em corda de rede, coisa que das outras viagens de barco que fiz, nunca tinha aprendido... Também nunca tinha viajado com artistas assim, em turnê... Foi uma rica experiência. Como sempre, nessas viagens em que o tempo parece mais lento, eu me pego pensando em coisas que são infinitas. Me conecto com a natureza, os sentidos ficam mais atentos e os sonhos embalados pela rede parecem mais reais e reveladores...

Agradeço ao convite do Grupo Vivarte, a convivência e paciência com e de todos. Parabéns pela iniciativa. Foi de arrepiar ver pessoas assistindo teatro pela primeira vez. Pessoas que não sabiam o que significava a palavra "teatro". Pessoas com os olhos e sorrisos brilhando, encantadas. A iniciativa, ao meu ver, é revolucionária. A arte transforma e abre portas....

Vida longa, Vivarte, Pachorra, Arte e Floresta !

Diário de Bordo da Turnê Encantoria no Rio Acre - #7

Colônia Primavera - Rio Branco/Acre
15/02/2013
Escrito por Rodolfo Minari
Fotos por Talita Oliveira



Acordamos, descemos muito devagar o mais alto barranco que encontramos na viagem. Seguimos descendo. Paramos na casa de Seu Manuel, para vê-lo e devolver sua faca, a com que Rafa quase decepou o próprio dedo, tirando castanha da casca. Mas ninguém estava lá – só uma pessoa cuidando da casa. Na Novinha, a mesma coisa. Tínhamos agendado a apresentação, mas para o dia anterior, e não conseguimos ligar avisando. Lá só estava um senhor que conhecemos na ida, e que não enxerga quase nada...

O maior de todos os barrancos...

Constatou-se, ainda que Lua estava com catapora, e, somando-se as coisas, cogitamos seguir até Rio Branco e substituir a apresentação por uma na Transacreana, ou no Ceasa.

Lídia e Lua.

Mas Seu Serafim se deu conta de que já eram 16h e só seria possível chegar a Rio Branco à noite, o que não queríamos. Ele informou então de outro lugar onde morava uma família amiga, chefiada por um velho de quem gostava muito.

Aportamos nesse local. Mercearia Primavera, li. Subimos o barranco, bastante liso e muito cheio de lixo e fomos recebidos por uma menina de 11 anos, chamada Regiane, com uma garrafa de café. Nos acolheu, situou e conversou ativamente conosco, uma excelente anfitriã com um sorriso lindo que a Talita fotografou várias vezes. Seu irmão mais velho também estava em casa, porém, mais introvertido que a irmã, preferia esperar lá dentro quieto, até o pai voltar. Este estava trabalhando, ali perto. E o velho tinha ido à cidade, abastecer a venda, que na ocasião não tinha nada pra vender.


Chegando na colônia Primavera.
Regiane

Com a chegada do pai, conhecemos o irmão. Ele já repetiu uma série. A menina não. “Mas o vô gosta desse menino, ó”, dizia Regiane, e nos aprontou uns bodós, de sal, salpicados de açúcar.

Pra dormir o barracão da sinuca, para armar barraca e rede, e colchões, camas, dentro da casa, “hotel cinco estrelas”, dizíamos, onde viviam, aqui e ali, três jabutis.
 

Diário de Bordo da Turnê Encantoria no Rio Acre - #6

Seringal Nova Amélia - Capixaba/Acre 
14/02/2013
Escrito por Rodolfo Minari
Fotos por Talita Oliveira



Acordamos na casa de seu Antônio e mais uma vez constatamos que o melhor local para apresentação era dentro da casa. Arrumamos as coisas na sala, com a cortina que a divide com o quarto ao fundo da banda. Removemos a caixa de som e mudamos a cama de lugar. O quarto ficou como camarim. Nas outras paredes da sala, calendários, fotos, gravuras, santinhos de um candidato do PCdoB e, num quadro, a imagem e a história da Arca de Noé.

Amanhecendo...

Além do casal e seu filho, um “menino” de 24 anos, chegaram de canoa as visitas, duas moças com duas crianças. Gostaram e riram com a Origem das Estrelas. No Encantoria, a menina menor ficou tensa ao longo de todo espetáculo, contendo o melhor que pode o choro até o final, indo e voltando do chão para o colo da menina. Com a entrada do Uirapuru, já no final, ela não aguentou e pediu para sair... A maior se manteve tranquila, porém foi difícil convencê-la a vir para o meio da gente, na hora da foto.

Apresentação do Pachorra.

Apresentação do Vivarte.
Vivarte, Pachorra e o público.

Tivemos um almoço excelente, com peixe, frango caipira e queixada. Foi avisado aos de fora que a carne do porco é remosa, faz mal, inflama feridas. Mas todos comeram, estava muito boa... Aos fundos da casa também foi muito bom o banho de caixa d’água. Essa hora o sol brilhava forte. Secamos um pouco do suor dos figurinos, pendurando-os na cerca. Juliano conversou bastante com Antônio e Serafim sobre meio ambiente. Tenho sempre a nítida sensação de que suas falas sensibilizam o interlocutor e o fazem pensar, graças ao equilíbrio do seu ponto de vista, que enxerga a natureza como um sistema harmonioso que gera a vida e preciso ser protegido, mas também enxerga o homem, que precisa se defender, sobreviver, criar seus filhos, consumir proteína, produzir. Reforço com a isso a fé de que faz a arte, nesse aspecto, pode funcionar melhor até do que sanções ou multas, porque desperta consciências e educa as pessoas para o seu próprio bem-estar.
Capitão Serafim e seu assistente, Juliano

Seguimos viagem. Ou melhor, iniciamos a viagem de volta, dessa vez descendo o Rio Acre. Tínhamos outra apresentação a fazer ainda nessa dia, no local onde, na ida, compramos refrigerantes e avisamos o horário da apresentação. Essa estratégia deu prova de sua eficácia: foi nosso melhor e mais animado público e sem dúvida uma das melhores performances de ambos os grupos. Compareceu, inclusive, uma senhora que já nos havia assistido na Dona Subaya, alguns dias atrás. Disse que gostou e veio ver de novo, e trouxe gente. Outra apresentação, dentro da sala. Cuidamos para não cobrir com o banner nenhuma janela, pois através delas se via a mata exuberante lá do outro lado do rio. Muitas gargalhadas, grandes sustos. Teatro com vida. No fim do dia um piquenique das besteiras que tinha na venda, biscoito, refri, salgadinho de isopor, amendoim japonês. Tainá descolou até uma erva mate (com limão), que tomamos quente.

Público chegando...
Apresentação do Pachorra.
Apresentação do Vivarte.
Vivarte, pachorra e o nosso maior público!


O jantar foi incrível, e a noite de chuva. 

Proseando...

 

Diário de Bordo da Turnê Encantoria no Rio Acre - #5

Colocação São Luís do Remanso - Capixaba/Acre
Seringal Nova Amélia - Capixaba/Acre 
13/02/2013
Escrito por Maria Rita
Fotos por Talita Oliveira



Acordei com o canto de um pássaro e com a conversa de Seu Serafim, nosso Capitão do Barco, proseando com dona Subaia.

Já tratei de levantar, cumprimentar dona Subaia e seu Serafim. Logo ele teve a idéia de chamar algumas famílias amigas dele, próximas a colocação de Dona subáia, para assistir ao espetáculo. Desci pro barco e fui fazer um cuscuz para o café da manhã.

Conversei com dona Subaia sobre quanto seria a galinha e o frango caipira que ela preparou e já encomendei outra galinha caipira pra completar o nosso almoço.

Agora são 11h da manhã e o pessoal já trouxe todo o nosso material do espetáculo, estão montando o som e preparando o local da apresentação do Encantoria. Nossa apresentação está prevista  para meio-dia.

Durante a arrumação do cenário, figurinos e equipamento de som, caiu um toró e a mesa de som pegou um banho de chuva. Fiquei aborrecida, mas o meu aborrecimento não resolvia o problema... peguei emprestado um ventilador de Dona Subaia e, como o sol estava saindo, começei a tentar enxugar um pouco da água que tinha caido na mesa de som, enquanto isso já tinhamos arrumado todo o nosso material em um casinha onde funcionava um bar. Logo começamos com a apresentação do espetáculo de nossos amigos de Santa Catarina, “A origem das estrelas ou a revolta da pamonha”, seguido com o nosso espetáculo Encantoria

Secando a mesa de som...

Apresentação do Grupo Pachorra
Apresentação do Vivarte
Vivarte, Pachorra e o público

 Terminada a apresentação, descemos o barranco com o nosso material até o barco, e seguimos viagem. Umas 15h chegamos em uma comunidade chamada Corredeira. Paramos para combinar nossa apresentação que seria na volta e ganhamos de um morador, algumas macaxeiras que preparamos durante a viagem.

Arrumando o material no barco.
 
Paramos na casa de Seu Francisco, e o comunicamos que na volta iriamos apresentar o espetáculo e pernoitar em sua casa. Seguimos viagem e chegamos na casa de seu Antônio, ainda de dia. Ele e sua esposa são uns amores de pessoas, nos acolheram dentro de sua casa. Foi uma dormida muito tranquila.

Fim do dia...

 

Diário de Bordo da Turnê Encantoria no Rio Acre - #4

Seringal Kapatará - Rio Branco/Acre
Colocação São Luís do Remanso - Capixaba/Acre
12/02/2013
Escrito por Maria Rita
Fotos por Talita Oliveira


Acordei com o bater das asas e o cantar do galo, na casa do seu Manuel. Levantei,  seu Manuel já  estava de pé e com o café pronto. Tomei o café na companhia de seu Manuel com uma boa prosa, ele falando de como era ali naquela comunidade. 

Atenta as histórias de seu Manuel...
... enquanto ele debulhava o milho, ao lado do vivarteiro Rodolfo Minari
Segundo seu Manuel e Dona Dalva, naquele periodo - década da segunda guerra mundial, os seringalistas proibiam que os seringueiros cultivasem a agricultura de subsistência. Era uma espécie de escravismo do corte da seringa. Dona Dalva, esposa de seu Manuel, falou:  “ A gente era escravizado mesmo, porque não podia vender nada, tudo tinha que entregar pro seringalista, além da mercadoria que comprava pra sobreviver, eles aumentavam até 300 vezes acima do valor e os seringueiros nunca conseguiam pagar”.


Senti-me privilegiada, conhecendo a história do Acre através de pessoas como seu Manuel e Dona Dalva, memórias vivas da formação econômica e social da Amazonia.

Seu Serafim Chegou e logo fui chamar a moçada que ainda estavam dormindo para seguirmos viagem. Dessa vez nosso destino era a colocação  São Luis do Remanso, já no Municipio de Capixaba.

Dormindo...
Marilua levando as coisas de volta pro barco...


Saímos às 8h30, almoçamos em viagem e chegamos por volta das 17h nessa comunidade e logo conheci dona Francisca Batista da Silva, mais conhecida como SUBAIA, que era o nome da mãe do avó do senhor José Batista da Silva e a mãe do senhor José Batista que era chamada Subaia e o Avó de Dona Francisca queria que o nome dela fosse Subáia , mas o pai dela não permitiu. E aí ficou o apelido.

Juliano e Rafa cochilando...
Rodolfo tirando água do barco

Dona Subaia, nos preparou um frango e uma galinha caipira deliciosa. Fizemos um excelente jantar. Ocupamos  a Sede da Associação, onde já fomos varrendo e trazendo nossas redes para nos acomodarmos. Estava uma lua linda e um céu belisssimo, todo estrelado. Paulo apareceu com uma caixinha de cerveja, alguns tomaram uma latinha e fomos dormir. O ENTARDECER, FOI UMA DAS PAISAGENS MAIS BELAS DE TODA A NOSSA VIAGEM.

Entardecer
Uma lua crescente vem nos presentear...
O céu estrelado...
Papeando antes de dormir...